Em 2021 os navios de cruzeiro foram proibidos em Veneza, mas a proibição ainda não foi aplicada.
Antes da pandemia, lembro de estar almoçando em um restaurante ao lado de um canal em Veneza quando um colossal navio de cruzeiro de vários andares passou navegando. O navio elevava-se sobre os frágeis palácios medievais e campanários inclinados.
Em junho de 2019, um gigante navio de cruzeiro de 13 pavimentos colidiu em um cais de Veneza, machucando cinco pessoas. O acidente, registrado em vídeo, foi dramaticamente suficiente para fazer o prefeito da cidade Luigi Brugnaro proibir os navios de passar pelo centro de Veneza. Para ativistas contrários aos navios de cruzeiro, isto é apenas um exemplo de efeito negativo destes navios imensos.
Dois anos mais tarde, em 2021, proibiu-se a entrada de navios pesando acima de 25.000ton pelo canal Giudecca. Este canal passa em frente à Praça de São Marcos e leva ao Porto Maríttima na margem oeste do centro histórico de Veneza. Embora possa parecer uma vitória dos residentes que se opuseram aos grandes navios, a realidade é mais complicada.

POR QUE VENEZA BANIU OS NAVIOS CRUZEIROS?
Grandes navios de cruzeiro têm colocado em perigo o frágil ambiente natural e o construído de Veneza. Como os navios de grande peso viajando pelo canal na lagoa, eles prendem o sedimento que deve ser regularmente dragado dos canais.Descarta-se os sedimentos, que contém preciosos animais e plantas , ao invés de retornar ao ecossistema da lagoa. Mesmo quando se movimentam lentamente, grandes navios deslocam significativas quantidades de água.
“O movimento de tão massiva quantidade de água erode as fundações antigas de palácios e ruas com centenas ou milhares de anos”, explica Valeria Duflot, cofundadora da empresa social Venezia Autentica. A poluição dos navios de cruzeiro é outra questão. Enquanto há regulamentações estritas nos níveis de enxofre em veículos rodoviários, os navios são isentos. O combustível deles pode conter 3.500 vezes mais enxofre do que carros e caminhões. Isto “não afeta apenas o meio ambiente e a saúde dos seres vivos, mas também corrói severamente as obras de arte e palácios de Veneza”, diz Duflot.
NAVIOS SUPERDIMENSIONADOS SÃO RUINS PARA O TURISMO
Navios superdimensionados são prejudiciais, pois geram excesso de turismo, à medida que despejam milhares de viajantes juntos de uma únic avez nas estreitas ruas de Veneza. No verão, é bom evitar áreas turísticas como a Praça de São Marcos, pois pode-se ficar preso atrás da população de passageiros do cruzeiro que, amontoados, tentam ver tudo em um só dia. Como a tendencia é que os passageiros comam e durmam no navio, pouco contribuem com a economia da cidade histórica, enquanto pesam duramente em sua infraestrutura e recursos.
“Não é o tipo de turismo que queremos para a cidade”, disse a conselheira de turismo Simone Venturini após o anúncio do banimento dos navios de cruzeiro. Turistas que ficam apenas algumas horas representam cerca de 73% dos visitantes de Veneza. Porém, eles contribuem com apenas 18% da economia de turismo, entretanto os turistas que ficam pelo menos uma noite contribuem com cerca de 50%.
NEM TODOS DE VENEZA APOIAM A PROIBIÇÃO DOS NAVIOS DE CRUZEIRO
O dano ambiental pode ser severo, mas nem todos os venezianso odeiam os gigantes navios de cruzeiro. Seguindo a proibição em 2021, realizou-se um contra protesto por Si Grandi Navi, um grupo representando milhares de pessoas que dependem da indústria de cruzeiros.
Antes da pandemia, o setor empregava 4.200 pessoas na área, de acordo com a Autoridade Portuária. A indústria de cruzeiro também trouxe receitas de €280 milhões (embora a maior parte desta renda não beneficiasse os negócios no centro histórico). Depois que a economia de Veneza foi severamente afetada pela proibição de viagens em função da pandemia, alguns venezianos ficaram satisfeitos em receber as empresas.
Entrevistado logo após o anúncio do banimento, Filippo Olivetti, diretor administrativo da agencia de serviços portuários Bassani, disse que Veneza não sobreviveria sem os navios de cruzeiros, adicionando que ela fez a sua fortuna graças às atividades portuárias.

POR QUE AINDA HÁ NAVIOS DE CRUZEIRO EM VENEZA?
Apesar da existe legislação banindo os navios de cruzeiro, a realidade da situação não é simples. Apenas meses após o banimento, um navio da MSC de 92.000 toneladas atracou no porto da cidade histórica.
A razão? As autoridades da cidade ainda estão para construir um adequado centro de navios de cruzeiros fora da lagoa. Foi proposto como solução temporária o porto na zona industrial de Marghera, mas ele carece de infraestrutura para ser um terminal permanente de passageiros. E Marghera ainda está dentro da lagoa, então os cruzeiros redirecionados para lá continuam a ser um desastre ecológico para Veneza.
DEIXE O CONTINENTE ITALIANO E FIQUE NAS IDÍLICAS ILHAS NESTA PRIMAVERA
No final do ano passado, assinou-se um acordo que permitiria navios de cruzeiro de aportar em Fusina no lado continental da lagoa. Porém, dois anos após o banimento, ainda não há um plano definitivo para o novo porto de Veneza. Muitas companhias de cruzeiro abandonaram juntos a lagoa e agora aportam em Ravenna.
A cidade costeira está a cerca de duas horas de carro de Veneza e o tempo de transferência tem frustrado os passageiros que compraram o itinerário incluindo a cidade dos canais. Além disso, o governo italiano teve que pagar €22.5 milhões em compensação para um operador de terminal de Veneza e companhias relacionadas em 2022 devido a proibição.
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Fascinados por Transportes
Fonte: HUGHES, Rebecca. Why are cruise ships still stopping here when they’ve been banned? Euronews. Publicado em 13/05/2023. Disponível em: https://www.euronews.com/travel/2023/05/13/ive-lived-in-venice-for-8-years-why-do-i-see-see-cruise-ships-here-when-theyve-been-banned