CONHECENDO O METRÔ DE LONDRES

Conhecendo o metrô de Londres conta a estória de alguém que ama a cidade e não perde oportunidade de falar sobre ela.

Fascinado por Transportes, Mr.S. gostava de Londres desde menino, quando via nas fotos dos livros de inglês o Piccadilly Circus, National Gallery, Covent Garden, etc. Tinha preferência pelos poderosos leões da Trafalgar Square e, depois de adulto, quando ia para Londres, ficava um bom tempo na praça admirando aquelas impressionantes esculturas de bronze. Tomado por boas lembranças, abriu um espaço na agenda e viajou para ficar ao lado dos leões da Trafalgar Square e visitar novamente a casa do Sherlock Holmes.  

CHEGANDO EM LONDRES

Chegando em Londres, Mr.S. desembarcou no Aeroporto de Heathrow, um dos mais movimentados do mundo. O ano de 2019 foi o de maior movimento, onde atingiu a marca de 80,9 milhões de passageiros. Em 2021 o aeroporto registrou que cerca de 88% dos passageiros eram internacionais, 62% dos usuários viajavam a passeio, e os principais destinos dos voos foram Dubai, seguido por Nova York e depois Madrid.

Mr.S. foi direto a uma das lojas Costa do aeroporto, cafeteria preferida dos ingleses, com mais de cinquenta anos de história e espalhadas por vários pontos da cidade. Enquanto tomava seu macchiato abriu o aplicativo do transporte público de Londres para verificar qual seria a melhor opção para chegar até o hotel.

Mr.S. já providenciara o cartão Oyster, escolhendo a opção que abrangia o seu período total na cidade e todas as regiões de seu interesse. O Oyster é um cartão pré-pago, e a maneira mais fácil e barata de usar transporte público em Londres, que permite circular de ônibus, metrô, trem e similares.

HISTÓRIA DO METRÔ DE LONDRES PARA FICAR CONHECENDO MELHOR

Mr.S. pegou o Heathrow Express, trem expresso que oferece rota direta, sem paradas, do aeroporto de Heathrow até a estação Paddington, área oeste de Londres. A viagem dura apenas 15 minutos, enquanto de táxi duraria 50 minutos. Devido ao intenso movimento do aeroporto, os trens também partem a cada 15 minutos. A Estação Paddington é um dos mais importantes terminais do metrô de Londres e também dos trens da National Rail.

O hotel de Mr.S. ficava em Paddington, próximo ao Hyde Park, local onde ele gostava de ler e fazer longas caminhadas. Enquanto viajava no trem, lembrou-se que há mais de cento e cinquenta anos atrás, inaugurou-se o primeiro metrô do mundo, ligando Paddington (então chamado Bishop Road) a Farringdon Street. Naquela época, em 1863, Londres já era uma das cidades mais importantes do mundo e as ruas congestionadas pela intensa movimentação de carruagens, carroças, cavalos, gados, feirantes, etc. A ideia de criar um caminho subterrâneo por onde um trem transportasse as pessoas beneficiaria muita a sociedade da época, mas poucos acreditavam que aquilo se tornaria realidade.

PRIMEIRAS LINHAS DE METRÔ ERAM ABAIXO DAS RUAS EXISTENTES

Após vários estudos e dificuldades vencidas, as obras iniciaram-se usando-se a técnica cut and cover que consistia em os trabalhadores abrirem uma imensa trincheira, escavar no sentido longitudinal, construir um túnel de tijolos e depois preencher a cava acima do túnel recém construído, recuperando o nível do solo. Para a abertura da extensa cava, era necessário destruir as edificações ao longo do trajeto, então as primeiras linhas de metrô foram construídas abaixo de ruas existentes. As escavações eram rasas e para permitir a retirada de fumaça e vapor das máquinas, instalaram inúmeras saídas de gases.

Na virada do século vinte, o desenvolvimento de locomotivas com tração elétrica permitiu maior profundidade dos tuneis sem a necessidade de demolir as construções existentes na superfície. Nos próximos anos o foco foi fazer o metrô alcançar os subúrbios.

ALGUNS NÚMEROS PARA FICAR CONHECENDO MELHOR O METRÔ DE LONDRES

O metrô de Londres possui 11 linhas que somam 402km (*) de extensão, atendem 272 estações e transportam 1,35 bilhão de passageiros por ano.

As estações mais antigas do metrô causam um ligeiro mal estar, que por serem estreitas dão a sensação de maior profundidade. As longas escadas rolantes colaboram com a impressão de viagem ao centro da Terra. A maior escada rolante fica em Angel e tem 60m. A velocidade média do metrô de Londres é de 35km/h, similar ao do metrô de São Paulo.

O horário de funcionamento é das 5:00 as 24:00, sendo que algumas linhas funcionam durante toda a noite às sextas e sábados, facilitando a vida das pessoas que trabalham ou passeiam. Associado às estações das linhas noturnas, também há ônibus noturnos.

Os trens mais antigos geram altos custos de manutenção e vários estão sendo substituídos por outros mais novos, oferecendo viagens mais rápidas e confiáveis, portas mais largas, menor consumo de energia, maior acessibilidade e conforto aos usuários.

* O metrô de São Paulo tem 104km de extensão.

OUVINDO BOA MÚSICA E CONHECENDO O METRÔ DE LONDRES

Mr.S. gostava de música e sabia que Londres era berço de algumas de suas bandas preferidas Rolling Stones, Queen, Coldplay, etc. A cidade é muito musical e oferece várias oportunidades de se ouvir canções de qualidade, inclusive no metrô.

Mr.S. sabia que a partir de 2003, o metrô de Londres havia liberado a atuação de cantores de rua em 39 lugares localizados em 25 estações centrais de metrô; então ele pesquisou qual ponto faria parte de seu trajeto e se organizou para ir no meio da tarde. Os cantores não gostam de se apresentar em horário de pico, pois as pessoas apressadas não param para ouvir música e muito menos para jogar uma moeda dentro do chapéu no chão.

A administração do metrô disponibiliza um número limitado de licenças para os cantores, que são muito disputadas, pois mais de 3,5 milhões de pessoas usam o metrô por dia. Para conseguir a licença, os músicos passam por uma avaliação seletiva, em que tocam para conhecedores de música, em locais públicos, e recebem julgamento pela originalidade, técnica e desempenho. Embora recebam moedas, o resultado final é compensador.   

Mr.S. conseguiu conversar com o cantor, que disse que as pessoas gostam de músicas conhecidas, para poderem cantar junto. Ele soube que cantar nas estações de metrô é muito atrativo, pois além do bom dinheiro das gorjetas, é comum eles serem contratados para tocar em eventos, participar de bandas e gravar músicas.

conhecendo-metrô-de-londres-busking
Conhecendo e Ouvindo Boa Música no Metrô de Londres

EMERGÊNCIAS PARA FICAR CONHECENDO MELHOR O METRÔ DE LONDRES

Mr.S. era obstinado com saídas de emergências e rotas de fuga; evitava permanecer em lugares estreitos e sempre sentava próximo de corredores e portas. Lembrou-se que em 2013 estava em Londres e fora almoçar com um amigo em Covent Garden. Porém, no caminho parou em uma lojinha para ver uma lupa que parecia com a do Sherlock Holmes. Conversava com o amigo enquanto examinava a lupa e a vendedora, percebendo que eram brasileiros, comentou que estava ouvindo várias notícias sobre o incêndio da Boate Kiss. A tragédia relativa a falta de saídas de emergência foi muito noticiada no Brasil. Entretanto, Mr.S. se surpreendeu de a notícia ter chegado até uma simples lojinha em Londres.

Ele sabia que em vários lugares de Londres, principalmente os mais antigos, não havia a menor possibilidade de rápida desocupação em emergências. No domingo seguinte ao caso da Boate Kiss, Mr.S. fora até o distante bairro de Camden Town, local preferido da sua amada Amy Winehouse. No retorno, notou que havia algum problema na estação de metrô, que estava com excesso de pessoas e já formando uma pequena aglomeração na calçada. Viu que aquilo poderia tomar outras proporções e mesmo sabendo que estava em local muito afastado, não hesitou. Enfim, rapidamente pegou um táxi e saiu de lá.

O excesso de usuários do metrô de Londres (e de qualquer metrô) exige dos operadores treinamento e agilidade em casos de emergência. Desse modo, é preciso impedir a entrada de mais pessoas e facilitar a saída rápida e sem pânico de quem está dentro da estação. A superpopulação liberada de uma só vez, imediatamente reflete em excesso de pessoas nas ruas, falta de taxis, maiores riscos de acidentes, atropelamentos, etc.

INSPECTOR SANDS

Os operadores dentro das estações são treinados para evitar tumultos em dias de jogos esportivos e outros eventos que despertem paixões. Eles devem saber lidar com pessoas bêbadas, grosseiras, agitadores, suicidas que querem se jogar nos trilhos, etc. Existem planos de emergência para retirada das pessoas em casos de ataques terroristas, acidentes graves, incêndios, etc. Nos alto-falantes, os funcionários do metrô usam códigos secretos para se comunicar entre si sobre potenciais emergência, sem causar pânico na multidão. “Inspector Sands está chamando no setor x” é um dos códigos de alerta para os operadores se prepararem para procedimentos de incêndio.

Em situações de emergência, os usuários são solicitados a sair rapidamente do metrô, pelos caminhos estabelecidos. Isto é, sem entrar em pânico ou causar acidentes adicionais, e quando estiverem fora da estação devem abandonar a área imediatamente.

LINHA ELIZABETH: UMA DAS MAIORES OBRAS DA EUROPA

Mr.S. passou em frente do Palácio de Buckingham e viu uma pequena multidão aguardando a cerimônia da troca de guardas. Era quase 11:00 e embora famoso, o evento era meio monótono; de qualquer maneira achou um bom lugar e resolveu assistir. Enquanto os guardar da segurança do palácio desfilavam com os enormes chapéus pretos ao som de diferentes músicas, Mr.S. pensava na Rainha Elizabeth, recém falecida. Acabou lembrando da notória Linha Crossrail que mudou de nome para Linha Elizabeth em 2016, quando a rainha completou noventa anos de vida.  

A Linha Elizabeth é um trem híbrido que opera na área urbana e suburbana de Londres. Começa em Shenfield, subúrbio no Nordeste, atravessa a cidade até chegar em Reading, área Oeste. A construção começou em 2009, realizando um antigo sonho dos londrinos de diminuir o congestionamento em algumas áreas e estimular o crescimento de outras.

A Linha Elizabeth é uma das maiores obras de infraestrutura da Europa e possui características únicas. Os trens são grandes, o início e fim do trajeto ocorrem na superfície e atravessam o centro de Londres em modo subterrâneo. Uma das grandes dificuldades para a execução da obra foi encontrar espaço livre em um dos subsolos com maior congestionamento do planeta. Um dos novos túneis que passou próximo dos existentes da Linha Jubilee, apresentou diferença de apenas dois metros entre eles.

conhecendo-o-metro-de-londres-Elizabeth-line
TUNEIS DA LINHA ELIZABETH POSSUEM CAMINHO DE PEDESTRES PARA EMERGÊNCIAS

Os túneis da Linha Elizabeth têm diâmetro de 6,2m contendo inclusive um caminho de pedestres para emergências, constituindo um grande avanço para a saúde e segurança. As máquinas escavadoras de túnel TBM retiraram cerca de sete milhões de toneladas de terra do subsolo, onde a maior parte será reutilizada.

O imenso sistema de trilhos possui extensão total de 118km e 41 estações. Portanto, quando estiver totalmente concluído estima-se que atenda 200 milhões de passageiros por ano. Embora a Linha Elizabeth seja uma ferrovia elétrica rodando no subsolo da cidade, e conste no mapa do metrô, ela não faz parte oficial do sistema metroviário, pois há vários aspectos técnicos e operacionais que a diferenciam. Ela é uma ferrovia que atua como metrô quando está no meio da cidade. A partir de 2017 começaram as entregas para a população dos trechos concluídos da extensa Linha Elizabeth.

CONHECENDO O METRÔ DE LONDRES POR DENTRO DA ESTAÇÃO

Quando soube que Mr.S. estava em Londres, ele e eu combinamos de nos encontrar próximo da grande escultura de Sherlock Holmes na frente da estação Baker Street, pois fora ali perto que havíamos nos conhecido há alguns anos atrás. Enquanto a infância dele foi habitada pelos leões da Trafalgar Square, a minha consistiu em leituras e releituras sem fim de uma coleção de capa dura avermelhada das histórias de Sherlock Holmes. E o destino fez que nos conhecêssemos, já adultos, no museu do mais amado detetive, quando no mural da sala contendo centenas de cartões de fãs do mundo inteiro, fixamos nossos cartões de visita lado a lado, no mesmo momento.

Me organizei para pegar o metrô com antecedência a fim de não atrasar caso houvesse algum imprevisto. É cada dia mais inviável se deslocar em Londres sem usar o transporte público e existem várias ações que desestimulam o uso do transporte individual. Quem dirigir em áreas centrais definidas como congestionadas deve pagar uma taxa de £15 por dia (cerca de R$90,00). O sistema de transportes da cidade é integrado e administrado pela TfL Transport for London, possibilitando a criação de estratégias e compromissos conjuntos e que abrangem: metrô, ônibus, diferentes tipos de trens, etc. Em 2041 espera-se que 80% dos londrinos se desloquem a pé, de bicicleta ou por transporte público.

CAMPANHAS ESTIMULANDO CORTESIA COM O PRÓXIMO

Sei que é comum os transportes de massa veicularem campanhas estimulando a gentileza e a ajuda ao próximo, mas dentro da estação de metrô, caminhando em direção à escada rolante, me deparei com uma cena incomum. Um rapaz usando um par de muletas axilar, apoiando os braços, partiu para ajudar um senhor idoso que tremia muito e estava no pé da escada tentando se apoiar no corrimão para subir. Várias pessoas poderiam ter ajudado o senhorzinho na escada rolante, mas o único a socorrê-lo também tinha limitações; aquilo claramente não estava dando certo e ia gerar um acidente a qualquer momento. Ao invés de ir lá resolver o caso, fiquei paralisada assistindo a cena em câmera lenta, então vi o rapaz largar uma das muletas no chão e, com dificuldade, posicionar o senhor na escada para subir com segurança. A história teve final feliz, mas eu nunca esqueci aquela cena.

conhecendo-o-metrô-de-Londres-Baker-Street-Station
Conhecendo o metrô de Londres: Estação Baker Street

Quando cheguei ao ponto de encontro, Mr.S. já estava lá e ao me ver, percebi que abriu o seu melhor sorriso, acho que eu também, pois estávamos com muitas saudades um do outro. Conversamos um pouco e saímos de lá alegremente, como duas crianças indo a um parque de diversões, mas nosso destino era muito melhor! Estávamos indo ao melhor endereço de Londres, na casa de Sherlock Holmes, na Baker Street 221B.

Silvia Guimarães

Assista o vídeo no meu canal do youtube sobre o Metrô de Londres: https://youtu.be/Y77aoA-ueKY

Leia também: https://fascinadosportransportes.com.br/transporte-de-cargas-leves-em-londres/

Leia também: https://fascinadosportransportes.com.br/airbus-a380-conhecendo-o-maior-aviao-do-mundo/

Saiba mais: https://fascinadosportransportes.com.br/conhecendo-o-aeroporto-brt-e-metrocable-da-colombia/

Referencias:

COOPER, Daniel. London’s Railway of the Future is Finally Here. Engadged. Publicado 23.maio.2022.

Transport for London. Disponível em https://tfl.gov.uk/

https://www.heathrow.com/company/about-heathrow/facts-and-figures