O Homem de Marlboro foi uma das melhores campanhas publicitárias de todos os tempos. O atraente e heroico cowboy fumando cigarro fascinou pessoas mundo afora por muitos anos. Lembro de um cartaz gigante do Homem de Marlboro de corpo inteiro na lateral de um edifício perto da Paulista com a Consolação, em SP. Inesquecível!
O Homem de Marlboro e vários anúncios da indústria automobilística envolvem seus produtos com tanto poder e sedução que é difícil não querer um bom carro. Como a vida cotidiana tem glamour zero, gostamos de sonhar. O cigarro pode fazer mal à saúde, e o carro sofisticado, que custa o preço de um apartamento, pode te prender no trânsito, não ter lugar para estacionar, aumentar a poluição da cidade, mas…
A realidade é cruel! O Homem de Marlboro andaria de ônibus para salvar o planeta?
Fatores culturais afetam a tomada de decisão individual do meio de transporte. Possuir um belo carro continua sendo símbolo de status; e usar transporte público, andar de bicicleta ou a pé ainda possui uma conotação social negativa.
Precisamos bem mais que alguns vídeos do Tom Cruise e Keanu Reeves “anonimamente” andando de metrô. Casos fofos e esporádicos não mudam o comportamento das pessoas. E, sejamos francos, o cidadão comum está realmente preocupado com o meio ambiente? Deveriam ser mostrados exemplos reais de pessoas que efetivamente melhoraram de vida quando deixaram o carro na garagem. Quanto tempo e dinheiro economizaram com a mudança de hábito? Em que medida houve melhoria na saúde e no bem estar?
Evidentemente a cidade tem que oferecer um bom sistema de transporte público e várias outras condições que estimulem a pessoa deixar o carro em casa. O canal Not Just Bikes faz um belo trabalho de conscientização, onde um canadense que se mudou para a Holanda apresenta inúmeras comparações do transporte público na Europa e na América do Norte. São tantos exemplos que é impossível não perceber que uma boa estrutura de transporte público melhora consideravelmente a vida das pessoas.
Mas ainda é possível tornar as cidades menos dependentes de carros? Com certeza! A cidade de Rotterdam, Holanda, foi totalmente destruída na 2⁰ Guerra Mundial e depois reconstruída nos moldes das cidades americanas, priorizando carros. Mas na década de 90, cansados da poluição e congestionamentos, decidiram priorizar o transporte público, bicicletas e caminhadas. Hoje a cidade apresenta ótima mobilidade urbana. Nos anos 70, quando mal se falava em sustentabilidade urbana, Curitiba inovou com um sistema de transporte público eficiente, depois copiado em vários locais do mundo. O Homem de Marlboro só andava a cavalo, não tinha opção, mas quando o cidadão puder escolher seu meio de transporte, a dependência dos carros diminuirá. E o marketing de mobilidade urbana tem que se esforçar um pouco mais para entender nossos sonhos e necessidades.
Silvia Guimarães